Capítulo 6

Uldren e Jolyon permanecem próximos, estremecendo sob um dossel de línguas brancas. Uma chuva cai torrencialmente. Uldren não sabe de onde ela vem exatamente — de algum ponto no alto, em meio à névoa verde? Mas ela cai sem parar. Do fundo de um desfiladeiro entre dois campos floridos, onde a superfície imaculada do Jardim dá espaço a um pungente odor tropical, ele e Jolyon se viram para o alto para beber um pouco.

— Tudo cresce aqui — murmura Jolyon. — Veja suas unhas.

Uldren observa a própria mão. Ele se depara com a imagem aterradora de unhas enormes arqueadas para baixo, formando curvas na direção dos dedos, fechando um circuito hediondo com as próprias raízes. Terrível e incrível, de maneira estarrecedora, como o grito de um recém-nascido. Para ele, trata-se de uma ilustração das novidades, dos segredos que têm lugar ali. — Elas estão sujas — constata ele — mas eu tenho certeza de que você vai me desculpar por isso. A chuva não vai ceder. Vamos seguir em frente?

— Sim. Jolyon se levanta com alguma dificuldade, trazendo consigo um punhado de gavinhas. Os apêndices tentam envolver seus punhos. Dentes minúsculos em forma de letras esfolam sua pele. Ele observa, se prepara para dizer algo, e contrai o braço.

— Tudo bem com você?

— Por enquanto, sim — balbucia Jolyon. — Por enquanto, sim.

Eles seguem pelo desfiladeiro com a névoa verde se revolvendo acima, metidos até os tornozelos em uma mistura de pétalas de flores e húmus. Besouros achatados enormes se engalfinham sobre a terra. Uldren vira um sobre o dorso. Não há nada em seu interior: visto por baixo, ele não passa de uma carapaça oca. Jolyon puxa uma samambaia e constata que suas raízes são um emaranhado de fios metálicos de uma placa de circuito. Coisinhas tremelicantes com a forma de microchips úmidos perambulam sobre o solo exposto.

— Não gosto deste lugar — assevera Jolyon por entre os dentes. — É melhor voltar para a superfície…

Ele se refere à superfície do Jardim, aos campos bem cuidados de flores vermelhas que se estendem rumo a um altiplano distante. Mas tem Vex demais por lá, pensa Uldren. Eles estiveram aqui, cultivando, movendo a terra, levantando paredes, erigindo seus constructos ancestrais de pedra e luz. Tentando domar este lugar.

— É vida — sussurra. — Você tem razão, Jol. Tudo cresce aqui…

Ele não pode permitir que este lugar morra. Não pode permitir que ele seja saqueado e subjugado como tudo que não se encaixa nos obtusos dogmas binários dos guerreiros mortos-vivos do Viajante. Uma euforia o domina e ele corre à frente, gargalhando alto enquanto seus pés afundam no lamaçal.

— Uldren — grita Jolyon às suas costas —, o que você está procurando?

— Eu não sei — berra ele em resposta. — Isso que é tão incrível! Eu não tenho como saber!