Capítulo 8

O comunicador no quartinho de Eva soou, alto o suficiente para acordá-la de um sono profundo. Ela usara uns tecidos e umas obras de arte catadas na Zona Morta para dar um ar aconchegante e caseiro ao pequeno celeiro, mas ao despertar levou alguns instantes para se lembrar onde estava, o que vinha acontecendo com certa frequência quando ela acordava repentinamente.

Gemeu ao se levantar da cama, apoiando-se na mobília. As Bestas Bélicas tinham causado um dano tremendo, e ela ainda sentia as pernas duras nos pontos em que a Bray tech tinha colado de volta osso e tendão.

Eva largou-se na cadeirinha diante do comunicador. A não ser pela luz da tela, o cômodo estava quase às escuras. Cansada, ela ficou observando o comunicador enquanto a imagem de Tess Everis ficava mais nítida. Era dia na Cidade, e Tess estava vestida para o trabalho de forma impecável.

"Você sabe que horas são aqui?", perguntou Eva, sem reprimir a nota de irritação que se infiltrava em suas palavras.

"Sei, sim." Algo na voz de Tess fez com quem Eva se endireitasse na cadeira, chegando mais perto. O rosto de Tess estava tenso. Ela parecia... assustada.

"Tess, o que foi? Você está bem?" Agora Eva estava totalmente desperta, se enrolando ainda mais nas vestes verde-azuladas. De repente, estava sentindo frio.

"Sinto muito, minha querida. Eu... eu queria que você soubesse o mais cedo possível. Aposto que Tyra está recebendo uma ligação de Rahool agora mesmo." Tess abaixou o rosto e desviou o olhar, antes de voltar a encarar a câmera. "Meu bem, Cayde morreu. Ontem, no Arrecife, aconteceu algo. Ainda não sei os detalhes, mas todos estão falando disso."

Eva cerrou a boca, formando uma linha fina e preocupada. Nunca fora muito chegada ao Vanguarda de Caçadores, mas sabia que muitas pessoas o admiravam. Confiavam nele. E se havia algo poderoso o suficiente para matar Cayde-6... "A Legião?"

Tess balançou a cabeça. "Ainda está quieta, segundo as informações que temos." Pela primeira vez desde que Eva atendera, Tess abriu um leve sorriso. "Mas você sabe o quão confiáveis são os rumores. Pode ter sido qualquer coisa."

Eva se recostou na cadeira, cenho franzido. "Sinto muito, querida. Sei que você gostava dele." Tess deu de ombros, tentando despistar. "Não me venha com essa, porque não faz tanto tempo assim que nós duas estávamos trocando histórias no Mercado."

Tess se deteve, e então assentiu, melancólica. "Vai ter um funeral, acho. Que tal voltar para participar?"

Agora foi Eva quem desviou os olhos da tela. Era a primeira vez que alguém pedia a ela para voltar. E logo para um funeral. Eva estava pronta para dar uma desculpa qualquer quando Tess voltou a falar, com uma leve sugestão de humor em sua voz grave.

"Enquanto estiver aqui, você pode consertar a programação de festas dos chassis."

Os olhos de Eva se arregalaram. "Os chassis estão celebrando as festas sem mim?"

Tess sorriu de verdade. "Ficamos tão surpresos quanto você! Na mudança para a nova Torre, as coisas de festa acabaram guardadas junto com os suprimentos essenciais. Não sei como. E quando os seus programas se ativaram, eles conseguiram encontrar as caixas marcadas." Tess pegou o comunicador e inclinou a lente para mostrar o chapeuzinho de Alvorada que estava na cabeça de um manequim no canto da sala.

Eva balançou a cabeça, incrédula. "Eles comemoraram a Alvorada sem mim."

O rosto de Tess voltou ao enquadramento. "Além disso, durante o verão, a Ikora arrumou alguém para ajudá-la organizar um evento para comemorar o fim da Guerra."

Eva tentou não deixar transparecer a irritação que sentia. "E como foi?"

Tess balançou a cabeça de um lado para o outro, ponderando. "Ah, sabe... Foi ok." Eva comprimiu os lábios, e Tess deu uma risada. "Estava longe de ter o seu toque especial, meu bem." Ela suspirou. "Ai, rir é tão bom. Venha, volte para a Torre! Nem que seja para demonstrar seu respeito. Parece que faz anos que eu não te dou um abraço."

Na escuridão de seu quarto, Eva voltou o olhar para a janela. Lá fora, o brilho tênue do Fragmento era como uma âncora no horizonte, um símbolo do passado.

Eva voltou o rosto para a amiga outra vez e sorriu.