Capítulo 6

Pela segunda vez em um bom tempo, Eva balançou a cabeça, tentando entender onde estava. Não houvera aviso algum. Durante alguns segundos, ela ouvira o gemido de um motor acima dela, e então uma imensa explosão tomou a rua na frente do apartamento no Subsolo.

O impacto a atirara no chão como se fosse uma boneca. O corpo todo doía e, não muito longe, dava para ouvir os gritos guturais de soldados Cabais. Em resposta vinha o som muito distinto das armas dos Guardiões. Havia alguém gritando.

Sem nem pensar, ela já estava de pé, lançando-se para uma mesinha lateral no canto oposto onde estava a sua escopeta. Três passos, quatro, arma na mão, tudo verificado. Bem a tempo, pois a porta do apartamento se escancarou e dois Psiônicos entraram, armas em riste.

Eva Levante, a costureira da Torre, teria ficado boquiaberta. A mulher frágil que tinha acabado de ver no espelho tinha passado meses praticando com uma arma – sem, contudo, chegar a atirar. Uma infinidade de exercícios a treinara para a ação, e seu primeiro tiro pegou bem no meio do peito do Psiônico da direita, arremessando-o para fora do cômodo. Contudo, nada a preparara para o coice da arma, e ela sentiu algo se partir em seu braço quando a arma arremeteu contra ela.

Perdeu o equilíbrio, cambaleando para o lado, o que acabou salvando a sua vida: escapou, por um triz, dos tiros do outro Cabal. Rosnando, ela ergueu a arma e a rajada de resposta atirou a criatura na parede oposta.

Ofegante, ela recarregou a arma com uma mão só e aguardou, atenta. Não ouvia mais nenhum barulho externo. No andar de baixo, a luta parecia aguerrida. Eles precisavam dela. Ela se virou para a porta, com a arma estendida...

O barulho que o cão de guerra fez ao invadir o apartamento, arrebentando a janela, foi como uma segunda explosão. Eva deu meia-volta e viu a fera escamosa se bandear para o lado, e duas outras criaturas, que estavam no veículo de tropas que os sobrevoava, saltaram para dentro do pequeno apartamento. Aterrissaram com uma graça surpreendente, e três pares de olhos famintos encararam a costureira. A baba escorria no chão ao menor movimento das três ávidas bocarras.

Eva atirou.

As feras atacaram.