Capítulo 3

Eu fiz um acordo comigo mesmo há muito tempo…

Se as pessoas precisassem de ajuda e eu pudesse ajudar, eu ajudaria. Então, é o que eu faço.

Quando a ajuda rende algum espólio ou boa vontade pra mim, melhor ainda, mas nunca roubei um baú nem escondi uma provisão sem oferecer alguma coisa a quem precisasse. Pouca gente sabe disso. Por mim tudo bem. Eu não gosto de contar vantagem.

É verdade, eu nunca quis a vida dos Vanguardas, mas não porque eu não dava valor. É que esse valor tem mais a ver com outros que comigo. Além disso, poucos conseguem fazer o que eu faço. Pô, poucos tentariam, que dirá fazer… Quer dizer, fala sério… Aqui sou eu.

Já pisei em cada lugar. Já vi… ou causei… tanta confusão. Houve um tempo em que Shiro, Andal, o bando e eu fazíamos mais bem sendo maus do que o mais poderoso Titã já sonhou.

Já desbravamos cada trilha… Recuperamos uma pá de suprimento — surrupiando, contrabandeando, roubando, achando, descobrindo, saqueando. Não fomos os únicos, mas o mundo fora da Cidade ficou muito maior por causa da gente.

Tá, eu já não saio tanto, mas tô trabalhando para mudar isso.

Zavala não vai gostar — nunca gosta. Ikora vai tentar me convencer do contrário, sempre faz isso. Mas a gente já viu o quanto a nossa Luz é preciosa… e efêmera. A gente tem que usar enquanto temos…

Pra fazer o bem. Ser bom. Ultrapassar os limites. Retomar o que é nosso.

E essa foi minha primeira aposta… Apostei tudo. Desde o 1º dia. Apostei em mim.

Fui até o limite daqueles tempos sombrios. Você já ouviu as histórias. Se não, procure saber. Coisa assustadora. De abrir os olhos mesmo. Eu vi a Cidade crescer. E cair. E crescer outra vez, mais forte. Eu vi o melhor e o pior de nós. E vou lutar para garantir que a gente fique por aqui tempo suficiente para ver esse "melhor" se transformar no "melhor de todos" e o "pior" virar lembrança.

Sim, eu sou tagarela e arrogante. Fato. Mas sou rápido com a lâmina e ligeiro no gatilho. E se você precisar encontrar, combater, matar, salvar ou guardar alguma coisa, poucos conseguem fazer melhor que eu. Mas, no fim…

Eu só sou bom porque ele foi bom.

Eu gosto de pensar que aprendi comigo mesmo, que as anotações deixadas pelo "eu-antes-de-mim" prepararam o terreno. Que o Cinco percebeu, naqueles dias sombrios, que o Seis poderia não ser tão bom e acabar virando um Sete. Então, o antigo "eu" desenhou um mapa para a versão dele, ou de mim, que seria um homem melhor.

Assim, eu nem olhava pras cartas que eu recebia. Quando a aposta estava feita e era hora de pagar para ver, eu tinha as cartas certas, em qualquer situação. Eu tinha um ás e um rainha na manga.

Ou seja, não tinha como eu perder.

Ou seja, o melhor homem sempre venceria.