Capítulo 7

Nós nos digladiamos no jardim, no barro de possibilidade onde nada existiu e tudo poderia existir. Uma agonia ensombrada entre as flores. Pisoteamos as pétalas sob os nossos pés. Esmagamos as frutas, estilhaçamos as sementes.

Na explosão úmida das uvas e no rebentar das frutas — na perturbação do campo que era o jardim antes do começo do tempo e do espaço — ocorreram as detonações que criaram os universos. Cada universo gestava seus próprios volumes inflacionários e gerava linhas do tempo de ramificações infinitas. Cada volume a resfriar e se separar em domínios de física pós-simétrica, os quais eram encarnação daquela lei bipartida grandiosa e definitiva que só afirma: exista para não deixar de existir.

Enquanto isso, continuávamos a lutar. Derrubamos a árvore de asas prateadas e só deixamos o toco fumegante em meio à campina. Deixamos marcas de nossos pés espalhados e costas tensas na argila.

Nossos pés descuidados geraram ondas no jardim, as flutuações ao redor das quais os universos infantes originaram suas primeiras estruturas. O campo de dilatação se escancarou sob a existência. Simetrias se estilhaçaram feito vidro. Como pregas, falhas no espaço-tempo coletaram filamentos de matéria escura que inalaram e inflamaram as primeiras galáxias de sóis.

E ainda nos enfrentávamos. Nossos corpos empurraram coisas para fora do jardim — vermes e vidas em debandada das poças e das folhas. Acabaram na loucura do espaço primordial; debateram-se e cresceram.

E eu venci.

Eu venci, porque o jardineiro sempre se detém para oferecer paz. E, sempre que isso acontece, eu ataco.

Só que, a essa altura, já não importava mais. O jogo tinha acabado. O jardim dera origem à criação, as regras estavam no lugar e jamais haveria outra chance. Agora, jogávamos no cosmo. Jogávamos valendo tudo.

E os padrões nas flores, aterrorizados por nosso conflito, já não eram mais os vencedores inevitáveis de um jogo cujas regras de súbito mudaram — e vieram para o cosmo recém-nascido para fugir de nós.