Capítulo 8

Ainda sob o olhar de Wu Ming, o trio de Senhores da Guerra cercou a Senhora do Ferro solitária.

"Fim do Mundo é território dos Lobos," avisou Efrideet. "Assim como todo o Pico de Felwinter."

"Isso vai mudar, e vai ser agora." Um crescente de Luz surgiu entre as mãos espalmadas do Senhor da Guerra. "Tenho um exército de incursionistas e um esquadrão de Erguidos só esperando eu dar o comando. Felwinter devia estar louco quando se aliou à sua laia."

Sob o capacete, o olhar de Citan foi direto para o Senhor da Guerra que estava atrás da Senhora do Ferro. O Senhor que a flanqueava ergueu um canhão de mão gigantesco e atirou um balaço…

Bem no meio do peito de Citan, já que Efrideet se abaixou bem na hora. Ela girou seu canhão para a direita com o outro punho e deu dois tiros para trás, com um ruído ensurdecedor, detonando a parte de trás da cabeça do Senhor da Guerra. Wu Ming reparou que ela nem chegou a olhar para o alvo.

O terceiro Senhor da Guerra pegou a submetralhadora e disparou uma rajada no chão, mas Efrideet já estava rolando para longe. Wu xingou mentalmente, vendo as lascas de madeira voando para todos os lados. As pessoas gritavam.

Mas o conflito já tinha acabado. O terceiro Senhor da Guerra desmontou no chão. A faca solar de Efrideet tinha dividido a cabeça dele ao meio.

"Parem!" rugiu a Senhora, atirando para o teto quando três Fantasmas se materializaram diante de seus escolhidos. Pedaços de madeira caíram no ombro dela. Wu Ming xingou, dessa vez de forma bem audível.

"Vocês sabem quem eu sou," gritou ela. "A essa distância, posso acabar com vocês antes mesmo que consigam começar a trazer seus Erguidos de volta."

Os filhos do Viajante congelaram, suas carapaças girando agressivamente no ar como abelhas metálicas.

"Vocês podem ir," disse ela. "Mas seus Erguidos ficam comigo. Sigam o Decreto do Ferro e vocês poderão tê-los de volta. Mas não agora." Os Fantasmas se entreolharam.

"Agora voltem para os Senhores da Guerra," rosnou ela, "e avisem que o Pico de Felwinter pertence aos Lobos."

Os Fantasmas saíram pela mesma porta pela qual seus donos tinham entrado. Um burburinho começou a correr entre os demais clientes.

O Fantasma de Efrideet, que sempre pensava rápido, começou a tocar música: a Senhora Skorri cantando um antigo hino.

Os clientes foram se afastando dos corpos dos Senhores da Guerra, e logo começaram a conversar. O murmúrio foi enchendo o salão gradualmente, e logo um vozerio já tinha tomado conta. A música também ajudava.

"Foi por isso que você me pediu para vir aqui?" perguntou Efrideet, coldreando a arma. "Você disse que tinha um trabalho remunerado para mim."

"Tinha mesmo. Você acabou de fazer o trabalho," respondeu ele, estendendo para ela um punhado de Lúmen. A Senhora do Ferro encarou a soma e, mesmo com o capacete, deu para ver que estava boquiaberta.

"De onde você tira todo esse dinheiro?"

"Eu tenho meus meios," respondeu Wu Ming, rindo. "Fique por perto, irmã, e vai ficar rica. Prometo."

Ela pegou os cubos de safira da mão dele com avidez. Lúmen era um material de puro potencial.

"Você não trouxe Felwinter," declarou Wu.

Ela o encarou. "Eu avisei que ele nunca desce do Pico, exceto quando tem um assunto oficial de Senhor do Ferro. Do que você precisa?"

"Ei, o que você vai fazer mais tarde?" perguntou Wu, de repente."

"Vou caçar Decaídos. Eles estão virando um problemão na Passagem de Boyle. Vamos ficar nessa até o anoitecer," falou Efrideet, erguendo o capacete só o suficiente para pegar um drinque por cima do balcão e virar um caneco inteiro da bebida maltada que Wu servia no bar. Ela arrotou e perguntou, "Quer vir junto?" O sorriso que mal se via por baixo do capacete era só dentes.

Wu deu uma risadinha. "Ah, não. Imagina, um mero mortal em uma briga de Erguidos? Eu só atrapalharia." Ele passou um segundo pensando. "Gostaria de dançar antes de ir?"

"Ah, não," disse ela, imitando o tom de voz dele. O capacete voltou para o lugar.

Ele virou o ouvido na direção dela, inclinando-se para a frente, e perguntou, "Peraí, o que você acha que eu disse?"

"Gostaria de dançar antes de ir?" repetiu ela.

"Mas é claro!" exclamou ele, adiantando-se com os braços abertos.

Ela se esquivou, dando uma rasteira nele. Wu foi direto ao chão, e alguém ainda derrubou bebida nele.

"Eu tinha que tentar," disse ele, ainda caído, enquanto via Efrideet se afastar. A pluma do capacete dela cortava a multidão, e ela já estava quase na porta quando ele gritou, lá do chão, "Vê se leva esses corpos!"

**

Ele levou três horas para escalar o Pico naquela noite. Tremia mesmo com o casaco pesado e, se não fosse pelo Fantasma, ele teria sucumbido ao frio. Fantasma estava, é claro, escondido.

Quando ele chegou ao topo, as imensas portas do castelo já estavam abertas. Um Exo, olhos brilhando no crânio preto, se postou logo atrás dele. Desistiu de pegar a arma que estava dentro de seu casaco quando Wu Ming levantou as mãos enquanto se aproximava.

"Venho em paz, irmão."